Miguel Ángel Ramírez recém completou três meses de sua chegada a Porto Alegre. São menos de 100 dias de um trabalho que pretende ser de ruptura no modelo de jogo no Inter. Mas o treinador já se vê inserido em um ambiente de pressão e cobranças por resultados imediatos.
O técnico espanhol enfrenta um momento de turbulência no comando da equipe e convive com uma onda de protestos recentes, intensificados após a derrota no Gre-Nal na final do Gauchão. Além do vice estadual, a campanha na Libertadores ficou longe de empolgar – o Colorado se classificou como pior primeiro colocado.
Todo esse contexto levou Ramírez a fazer uma espécie de desabafo ao externar suas percepções sobre o futebol brasileiro após a vitória por 1 a 0 sobre o Vitória, na última quinta-feira, no Barradão. O resultado transformou o que eram três jogos sem vencer em cinco partidas de invencibilidade e serviu para reduzir a tensão sobre o ambiente colorado.
O discurso do treinador tocou em dois pontos centrais, recorrentes nas análises: o imediatismo e o calendário pesado. Em um momento, ele subiu o tom de sua fala e chegou a dizer que o "futebol brasileiro não evoluirá se não mudar".
Ramírez costuma sustentar em suas entrevistas que a equipe apresenta evolução dentro de seu modelo de jogo – mesmo que o rendimento recente do Inter desperte críticas e insatisfação de parte da considerável da torcida. Nesta quinta, o discurso girou em torno de um pedido de paciência para progredir no que ele pretende para a equipe,
O treinador pede um tempo de trabalho que lhe é concedido pela diretoria. Se o ambiente externo é de cobranças e contestações, os dirigentes dão respaldo ao projeto de longo prazo com o treinador como parte central para conduzir uma ruptura no jeito de jogar. Tanto que a saída nunca passou – nem passa – pela cabeça dos colorados.
– O Inter tem um projeto que não é meu, um projeto que visa uma maneira de jogar futebol, fazer coisas com a base e o time principal juntos. E se não alcançar bons resultados, o projeto não serve. Eu vou aprendendo aqui, mas sei que se não mudar, não vai evoluir. Se não houver espaço para tentar coisas diferentes, como em outros países. Esses lugares tiveram paciência e, por isto, revolucionaram. Aqui, não há paciência – disse o treinador.
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O treinador também incorreu a uma crítica ao calendário brasileiro. Trata-se de uma reclamação já externada por ele em outras entrevistas coletivas.
Ramírez tem exatos 88 dias de trabalho pelo Inter até aqui. Desde que comandou o primeiro treino, a equipe disputou 20 partidas. Uma média de um jogo a cada 4,4 dias. De acordo com o treinador, o calendário impacta – e muito – no nível de jogo no futebol brasileiro.
O técnico também fez uma análise da condição física do elenco colorado. Ramírez entende que é "impossível" ter uma condição física "ótima" com um curto espaço de descanso entre uma temporada e a seguinte. O elenco principal teve 10 dias de recesso após o fim do Brasileirão de 2020.
– Este time veio do ano passado com uma carga alta de partidas. Houve uma queda física no último mês de competição. Teve um recesso que nem recupera, nem mantém a forma. Não tivemos pré-temporada. É impossível, impossível, em um período competitivo, alcançar uma condição física ótima – analisa.
Em um cenário que não lhe concede a paciência ou o tempo desejados, Ramírez conseguiu atenuar em parte a pressão com a vitória da última quinta-feira no Barradão. Agora, a equipe tem a chance de dar um passo mais definitivo para dissipar a turbulência ainda em solo nordestino.
A delegação colorada desembarcou em Fortaleza no final da tarde desta sexta-feira. No domingo, o Inter enfrenta o Fortaleza no Castelão, às 16h, pela 2ª rodada do Brasileirão. O Colorado estreou na competição com empate em 2 a 2 diante do Sport, no Beira-Rio.
Fonte: GE